Sinopse:
"Dois Irmãos" é a história de como se constroem as relações de
identidade e diferença numa família em crise. É a história de dois irmãos
gêmeos - Yaqub e Omar - e suas relações com a mãe, o pai e a irmã. Moram na
mesma casa Domingas, empregada da família, e seu filho. Esse menino - o filho
da empregada - narra, trinta anos depois, os dramas que testemunhou calado.
Buscando a identidade de seu pai entre os homens da casa, ele tenta reconstruir
os cacos do passado, ora como testemunha, ora como quem ouviu e guardou, mudo,
as histórias dos outros. Do seu canto, ele vê personagens que se entregam ao
incesto, à vingança, à paixão desmesurada. O lugar da família se estende ao
espaço de Manaus, o porto à margem do rio Negro: a cidade e o rio, metáforas
das ruínas e da passagem do tempo, acompanham o andamento do drama familiar.
Prêmio Jabuti 2001 de Melhor Romance.
Sim,
eu me interessei por este livro após ver o comercial da minissérie da Rede
Globo (o programa em si eu não vi ainda).
Minha curiosidade se deu, em primeiro lugar, pela qualidade da série
apresentada nos comerciais. Procurei a sinopse e achei deveras interessante –
melhor ainda foi descobrir que se tratava de uma adaptação de um muito elogiado
livro. Muito elogiado mesmo:
considerado por críticos o melhor romance brasileiro dos últimos quinze anos,
lançado em muitos países e vencedor do Prêmio Jabuti. Óbvio que eu precisava
ler esta obra de Hatoum. E aqui estão as minhas impressões do livro.
Esta
não é uma obra fácil de ser lida – não pela linguagem usada no texto, mas pela
forma escolhida pelo autor para contar a trama. Tudo nos é narrado pelos olhos
de um homem que conviveu com a família dos irmãos protagonistas: o filho da
empregada, Nael. O rapaz narra desde o momento em que Zana e Halim se conhecem
até os momentos posteriores à morte de ambos. Como não era nascido em muitos dos
fatos contados, ele foi buscar em Halim as histórias que queria conhecer (e nos
passar). Com isso, Nael vai e volta no tempo para nos presentear com a história
de sua família do seu próprio jeito. É aqui que reside o maior poder desta
obra, em minha opinião.
A
partir do momento em que vemos os fatos do ponto de vista de Nael, e não dos
gêmeos, tudo ganha um ar diferente. Por exemplo: fica evidente, como a própria
sinopse deixa clara, que acontece uma relação incestuosa entre algumas
personagens, e Nael presenciava isso, porém, era ingênuo demais na época para
entender. Quando adulto, ele não usa essa palavra, “incesto”, apenas descreve
as passagens ocorridas da forma como presenciou e se sentiu na época. Assim,
vamos descobrindo o que aconteceu com os gêmeos também através de cartas,
lembranças, histórias. E vamos descobrindo como o ódio entre os irmãos tinha
força o suficiente para destruir a família inteira, mas sempre mergulhando
apenas nos sentimentos e pensamentos de Nael, nunca de outras personagens, que
acabam por se tornar figuras distantes, ainda que possamos entender suas
personalidades e desejos perfeitamente.
O
mais interessante, contudo, é que Nael é sim o protagonista de toda essa trama,
não os gêmeos – Yaqub, inclusive, aparece pouco, fala menos ainda. Em uma
história cheia de personagens interessantíssimas, Nael busca sua própria
identidade ao aprender o passado das demais pessoas: seus avós, o comerciante Halim
e obcecada Zana; a bela tia Rânia; sua sempre sofredora mãe Domingas; e, é
claro, os gêmeos: o mutilado Yaqub e o vagabundo Omar. Nael vai vasculhando e
revirando o passado para descobrir a verdade sobre si mesmo e, neste intricado
processo, vai desvendando essas figuras complexas que os rodeavam. É mais do
que uma história sobre irmãos gêmeos que se odeiam, mas também uma história
sobre identidade, mentiras e verdades.
A
edição que comprei é da Companhia de Bolso, um braço da Companhia das Letras. O
livro, uma versão de bolso, tem capa simples e acabamento bonito, mas um tanto
delicado. Como colecionador de livros que sou, apesar de ter adorado a edição,
tratei-a com o máximo de cuidado para não detonar completamente a obra que
tinha em mãos, principalmente as pontas da capa (que não possui orelhas). A
vantagem: o material escolhido para a capa permite abrir bem o livro sem que se
deforme, e rapidamente o livro volta ao normal, como se jamais tivesse sido manuseado.
Com
uma obra poderosa e arrebatadora, digo ao fim desta resenha que Milton Hatoum
mereceu os prêmios que ganhou. Dois Irmãos é o primeiro livro que li deste autor, mas não
será o último de forma alguma. Existem três edições, uma com a capa da
minissérie, inclusive, e recomendo fortemente a leitura. Para aqueles que não
são fãs de literatura nacional, fica a dica: deem uma chance para Hatoum. Para
aqueles que já apreciam nossos livros, vale e muito a leitura. Não irão se
arrepender.
Editora: Companhia de Bolso
Ano de Lançamento: 2006
Páginas: 200
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