sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Doutor Estranho: Shamballa



de J. M. DeMatteis e Dan Green

            Sinopse: O Dr. Estranho retorna ao lar do Ancião, no Himalaia, para prestar homenagem ao seu mestre, e descobre que seu antigo mentor lhe deixou um último — e extremamente desafiador — presente. Uma dádiva que coloca o Mago Supremo numa jornada de autoconhecimento e que pode significar o início de uma nova Era Dourada para toda a humanidade. Uma jornada pelos locais mais sagrados do planeta e pelos recônditos de sua própria alma! Mas será que o Dr. Estranho está preparado para pagar o terrível preço exigido para completá-la?

            Aproveitando o lançamento do filme Doutor Estranho, a Panini Comics resolveu relançar, em uma hora que não poderia ser mais oportuna, um pequeno conto sobre magia, redenção e busca interior do Mago Supremo da Terra, Stephen Strange. Confesso nunca ter lido absolutamente nenhuma história da personagem, mas o momento me era propício, então decidi lê-lo. E é meu dever dizer que esta não é apenas uma história em quadrinhos, mas é uma experiência.
            Em Shamballa, Strange retorna ao Himalaia para prestar homenagens ao seu falecido mestre e recebe das mãos de Hamir, outro dos aprendizes, um presente que seu mestre deixou para ele antes de morrer: uma caixa que, ao ser aberta, não possui nada além de um interior espelhado. Essa caixa é o fio que conduz a história inicialmente, enquanto Strange tenta desvendar seus mistérios é incumbido de realizar um feitiço que trará uma nova Era Dourada para a humanidade – porém a um preço alto demais.
            O roteiro de DeMatteis é simplesmente maravilhoso, porém expõe o que tem de pior nas grandes editoras de quadrinhos estadunidenses: Shamballa não possui super-vilões ou grandes batalhas cheias de efeitos sonoros grandiloquentes; tampouco poderia se caracterizar como uma história em quadrinhos tradicional. Esta é sua maior qualidade, uma vez que nos entrega uma história que olha para dentro de si própria, não para fora. Por isso é tão boa, e por isso consegui lê-la e entendê-la mesmo sem conhecer nada sobre o Doutor Estranho.
            Quando disse que essa história expõe o que há de pior nas editoras de quadrinhos de super-heróis, é porque Marvel e DC Comics estão presas a fórmulas que, assim acreditam, o grande público quer ler. Então a maioria das histórias  são rasas, superficiais, abordando o plano do vilão daquele arco e suas conseqüências para os heróis – com exceções, claro. Não que eu mesmo, enquanto leitor de quadrinhos, não goste de histórias mais descompromissadas, mas elas não funcionam para todas as personagens. O Doutor Estranho é uma dessas personagens. Shamballa só funciona muito bem por que Strange está acima de todos os demais heróis e observa o mundo de uma forma diferente, mas acaba descobrindo ser apenas um neófito arrogante nas artes místicas.  
            Além disso, devemos nos atentar para o traço de Green e a forma com a qual a história foi concebida: com belíssimas pinturas e textos como em um livro, a história não te conquista apenas pela trama sensível e bem elaborada, mas também por nos apresentar páginas visualmente impactantes e muito bonitas, cada uma delas elaborada para ser diferente da anterior ou da próxima. Arte e história casam muito bem, e os leitoras habituais de quadrinhos irão adorar. Para os marinheiros de primeira ou segunda viagem, deem uma chance sem preconceitos.
            Esta história, não à toa, foi publicado pelo selo Panini Books da Editora Panini, e nos apresenta um material de qualidade em formato semelhante ao de X-Men: Deus Ama, o Homem Mata: um encadernado com páginas especiais, capa dura preta e um formato mais largo. Mesmo para os colecionadores é um formato estranho, mas faz jus à história – mais do que em Deus Ama, o Homem Mata, diga-se de passagem. Minha única reclamação: a capa poderia ter sido melhor elaborada, em vez de lembrar as horrendas capas da coleção Salvat. Mas podemos deixar isso passar, o material interno vale a pena.
            Para finalizar, só me basta dizer que esta é uma bonita história sobre autodescoberta e conhecimento íntimo do ser, que traz reflexões sobre a arrogância e nosso lugar no mundo enquanto humanos. Pode parecer pretensioso demais para uma história em quadrinhos, mas, hei, quem disse que não é possível? Só leia e veja por si próprio se estou certo ou errado.



Editora: Panini
Ano de Lançamento: 2016
Páginas: 64

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