terça-feira, 20 de setembro de 2016

Beladona



de Ana Recalde e Denis Mello

            Sinopse: A HQ conta a história de Samantha, uma menina assombrada por sonhos terríveis. A história se passa em dois mundos: Primeiro o mundo real e o segundo, e que na verdade é onde se passa a maior parte de nossa história: um mundo dos pesadelos’. Nesse mundo dos pesadelos, Samantha é perseguida constantemente por espíritos que a atormentam e que claramente desejam seu mal, mas isso tudo tem um propósito sinistro e que a levará a uma jornada com momentos de superação, descoberta, euforia, depressão e violência.

            Já há algum tempo os quadrinhos nacionais têm passado por uma verdadeira revolução: ganhando mais espaço, conquistando cada vez mais leitores, mostrando sua força no competitivo mercado literário. Como um fã de quadrinhos, acho isso ótimo! E de todos os quadrinhos nacionais que li (não tantos quanto eu gostaria, admito), Beladona é com certeza o melhor e mais bonito.
            A história criada por Recalde e Mello nos apresenta Samantha, uma menina constantemente atormentada em seus próprios sonhos – ou melhor, pesadelos – e o quanto isso influencia sua vida desde a infância até a fase adulta, quando ela enfim se torna a Beladona. Como um bom conto de terror, a história é pesada e vai se tornando gradualmente mais violenta à medida que Samantha cresce e se desenvolve.
            Desde o começo a história já sabe o que quer te apresentar: Samantha não é uma garotinha comum, como tantas outras. Abrindo a edição com um de seus pesadelos para só depois apresentar a vida real, podemos perceber toda a estranheza que envolve a personagem, mesmo quando ela está acordada (em alguns momentos, a vida real parece mais perturbadora nesta história). E o roteiro sabe as horas corretas de apresentar os sonhos, tornando a leitura harmoniosa.
            Outra grande sacada dos autores, um detalhe que torna qualquer história mais interessante, é a inserção do “ponto de vista médico/científico”. Explico: Samantha visita psicólogos desde a infância, que a diagnosticam com os mais variados sintomas simplesmente por se recusarem a escutar a verdade em suas palavras. Para as demais pessoas é mais fácil atribuir doenças mentais à menina do que aceitar que o mundo dos pesadelos pode ser real e, pior de tudo, palpável para algumas pessoas especiais.
            Tudo isso enquanto vemos a personagem principal lidando com problemas do cotidiano, como a adolescência, complicada e confusa por si só, mesmo sem o tormento de pesadelos. Aprecio bastante essa sensação de “estranho” incluído no “normal” passada pela trama, bem como a mistura de poderes paranormais com dia a dia da menina. Tudo é muito bem feito e bem escrito.
            Há também toda uma mitologia por trás do mundo dos pesadelos, habitado pelas mais bizarras e diversas criaturas. Algumas criaturas são 100% originais, enquanto outras são releituras de clássicos das lendas urbanas ou da literatura. Todas adaptadas à trama e ao traço, claro. Ao final da história, já imersos no mundo dos pesadelos, fica a sensação de que ainda há muito a ser explorado, e já estou esperando o segundo volume para saber mais sobre este mundo e sua mais ilustre habitante, Beladona.
            Aliado ao excelente roteiro está o traço de Mello, um tanto sujo, casa perfeitamente com a proposta da história, apresentando um mundo dos pesadelos perturbador, feito em tons de roxo, repleto de monstros e humanos distorcidos pela natureza maléfica do local. Ainda vale destacar que, apesar do traço não mudar entre o mundo dos pesadelos e o mundo desperto, você consegue ver a diferença entre um e outro claramente, principalmente pelo uso de cores. Você vira uma página e do mundo real passa para um pesadelo de Samantha. Quando li pela primeira vez, não senti estranhamento, as mudanças de cenário não parecem truncadas e malfeitas, pelo contrário
            A edição lançada pelo Catarse é simplesmente espetacular. Só precisava ter capa dura, o que adoro em graphic novels, mas tudo bem. Trata-se de uma edição robusta, com 200 páginas que mais parecem 400, tamanho A4, papel especial para as folhas internas e capa de um material resistente com orelhas (muito importante também, pois evita que as pontas da capa amassem, e você vai querer ler Beladona várias vezes, acredite em mim). O trabalho gráfico idealizado pelos artistas para este volume é simplesmente espetacular, contando com inúmeros extras. Uma edição especial para qualquer colecionador de quadrinhos – e para aqueles que querem começar a se aventurar no gênero também.
            Beladona é uma premiada incursão pelos quadrinhos nacionais, que merece destaque e elogios. Uma obra fora de qualquer parâmetro, mesmo quando a comparamos com quadrinhos internacionais, um quadrinho que se destaca em meio a tantos outros na prateleira de qualquer loja, superando facilmente até mesmo algumas graphic mais mainstream lançadas por aí. Procure e leia Beladona, não vai se arrepender.

PS: Ana e Denis, cadê o livro de RPG? Quero jogar no mundo dos pesadelos!


Editora: Avec
Ano de Lançamento: 2014
Páginas: 200

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