de Ana Recalde e Denis Mello
Sinopse:
A HQ conta a história de Samantha, uma
menina assombrada por sonhos terríveis. A história se passa em dois mundos:
Primeiro o mundo real e o segundo, e que na verdade é onde se passa a maior
parte de nossa história: um mundo dos pesadelos’. Nesse mundo dos pesadelos,
Samantha é perseguida constantemente por espíritos que a atormentam e que
claramente desejam seu mal, mas isso tudo tem um propósito sinistro e que a
levará a uma jornada com momentos de superação, descoberta, euforia, depressão
e violência.
Já
há algum tempo os quadrinhos nacionais têm passado por uma verdadeira revolução:
ganhando mais espaço, conquistando cada vez mais leitores, mostrando sua força no competitivo mercado literário. Como um fã de
quadrinhos, acho isso ótimo! E de todos os quadrinhos nacionais que li (não tantos
quanto eu gostaria, admito), Beladona é com certeza o melhor e mais bonito.
A
história criada por Recalde e Mello nos apresenta Samantha, uma menina
constantemente atormentada em seus próprios sonhos – ou melhor, pesadelos – e o
quanto isso influencia sua vida desde a infância até a fase adulta, quando ela
enfim se torna a Beladona. Como um bom conto de terror, a história é pesada e
vai se tornando gradualmente mais violenta à medida que Samantha cresce e se
desenvolve.
Desde
o começo a história já sabe o que quer te apresentar: Samantha não é uma
garotinha comum, como tantas outras. Abrindo a edição com um de seus pesadelos
para só depois apresentar a vida real, podemos perceber toda a estranheza que
envolve a personagem, mesmo quando ela está acordada (em alguns momentos, a vida real parece mais perturbadora nesta história). E o roteiro sabe as horas
corretas de apresentar os sonhos, tornando a leitura harmoniosa.
Outra
grande sacada dos autores, um detalhe que torna qualquer história mais
interessante, é a inserção do “ponto de vista médico/científico”. Explico: Samantha visita
psicólogos desde a infância, que a diagnosticam com os mais variados sintomas
simplesmente por se recusarem a escutar a verdade em suas palavras. Para as
demais pessoas é mais fácil atribuir doenças mentais à menina do que aceitar
que o mundo dos pesadelos pode ser real e, pior de tudo, palpável para algumas
pessoas especiais.
Tudo
isso enquanto vemos a personagem principal lidando com problemas do cotidiano,
como a adolescência, complicada e confusa por si só, mesmo sem o tormento de
pesadelos. Aprecio bastante essa sensação de “estranho” incluído no “normal” passada
pela trama, bem como a mistura de poderes paranormais com dia a dia da menina. Tudo é muito bem feito e
bem escrito.
Há
também toda uma mitologia por trás do mundo dos pesadelos, habitado pelas mais
bizarras e diversas criaturas. Algumas criaturas são 100% originais, enquanto
outras são releituras de clássicos das lendas urbanas ou da literatura. Todas adaptadas
à trama e ao traço, claro. Ao final da história, já imersos no mundo dos
pesadelos, fica a sensação de que ainda há muito a ser explorado, e já estou
esperando o segundo volume para saber mais sobre este mundo e sua mais ilustre
habitante, Beladona.
Aliado
ao excelente roteiro está o traço de Mello, um tanto sujo, casa perfeitamente
com a proposta da história, apresentando um mundo dos pesadelos perturbador,
feito em tons de roxo, repleto de monstros e humanos distorcidos pela natureza maléfica do local. Ainda vale
destacar que, apesar do traço não mudar entre o mundo dos pesadelos e o mundo
desperto, você consegue ver a diferença entre um e outro claramente,
principalmente pelo uso de cores. Você
vira uma página e do mundo real passa para um pesadelo de Samantha. Quando
li pela primeira vez, não senti estranhamento, as mudanças de cenário não parecem truncadas e
malfeitas, pelo contrário
A
edição lançada pelo Catarse é
simplesmente espetacular. Só precisava ter capa dura, o que adoro em graphic novels, mas tudo bem. Trata-se
de uma edição robusta, com 200 páginas que mais parecem 400, tamanho A4, papel especial
para as folhas internas e capa de um material resistente com orelhas (muito
importante também, pois evita que as pontas da capa amassem, e você vai querer
ler Beladona várias vezes, acredite em mim). O trabalho gráfico idealizado
pelos artistas para este volume é simplesmente espetacular, contando com
inúmeros extras. Uma edição especial para qualquer colecionador de quadrinhos –
e para aqueles que querem começar a se aventurar no gênero também.
Beladona
é uma premiada incursão pelos quadrinhos nacionais, que merece destaque e elogios.
Uma obra fora de qualquer parâmetro, mesmo quando a comparamos com quadrinhos
internacionais, um quadrinho que se destaca em meio a tantos outros na
prateleira de qualquer loja, superando facilmente até mesmo algumas graphic mais mainstream lançadas por aí. Procure e leia Beladona, não vai se
arrepender.
PS: Ana e Denis, cadê o livro de RPG?
Quero jogar no mundo dos pesadelos!
Editora: Avec
Ano de Lançamento: 2014
Páginas: 200
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