de Neil Gaiman
Sinopse: Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito
bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto
da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete
anos.Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou
o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio.
O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido
perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle,
que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas,
inclusive os do menino.
Ele sabia que os adultos não conseguiriam — e não
deveriam — compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua
família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente
o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender
seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as
três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro
oceano.
Quem já leu
algum livro/quadrinho de Neil Gaiman sabe que o autor não precisa de
apresentações. Se não leu ainda, faça um favor a si próprio e leia Sandman ou Deuses Americanos. Ou, melhor ainda, leia O Oceano no Fim do Caminho, primeira obra de Gaiman após cinco anos
sem lançar livros. É uma daquelas histórias que você vai querer ler e reler
para o resto de sua vida, te fazendo relembrar sua infância, deixando-o
apreensivo a cada página virada.
O Oceano no Fim do Caminho é um conto sobre
como as experiências passadas em nossa infância influenciam quem somos no
futuro. Não por acaso o autor alega ter escrito o livro com base em
suas próprias lembranças – quando lia Batman,
comia torradas ruins e imaginava que suas vizinhas eram bruxas. Acho que o
maior mérito do livro é se relacionar com absolutamente todas as pessoas, afinal todos já foram crianças. Você pode não ter
passado pelas mesmas experiências que Gaiman (provavelmente não mesmo), porém,
ao ler a história, percebe que via a realidade com a mesma ingenuidade que o
narrador da história.
O livro nos
apresenta a um narrador cuja identidade nunca é revelada (eu o chamo de Little Neil). Este narrador retorna para
a Inglaterra para participar de um funeral (de quem? Teorias?) e decide ir até
a antiga Fazenda Hempstock, onde começa a se lembrar do passado, de quando
tinha oito anos e um homem se suicidou no carro de sua família, liberando uma
força poderosa na cidade, e de como ele conheceu Lizzie Hempstock e a malvada Ursula
Monkton.
A vantagem de um
livro escrito em primeira pessoa é poder mergulhar na mente da personagem
principal de uma forma totalmente diferente: o próprio protagonista da história
lhe conta como se sente e pensa, de uma maneira muito pessoal. E quando esse
protagonista é uma criança, fica praticamente impossível não se comover ou relacionar
com ele – em dado momento, por exemplo, o pequeno narrador presencia uma
situação incomum para sua idade, e não entende o que acontece. É curioso ver
com olhos de adulto como uma criança vê coisas como violência, abuso e sexo. E
é dessa forma que Gaiman nos apresenta a história, sua história, poderosa e tocante na medida certa.
Vale ressaltar
que as Hempstock foram citadas primeiramente em O Livro do Cemitério (que será resenhado em outro momento) e que
Ursula Monkton é aparentemente um tipo de criatura estranhamente parecida com a
Outra Mãe de Coraline (idem),
demonstrando a intenção de Gaiman de criar sua própria mitologia em seus livros
– o que já vinha mostrando com Deuses
Americanos e Os Filhos de Anansi.
(não preciso nem comentar que vai ter resenha no futuro, né). É interessante
poder relacionar os livros e ver que há muito mais ali do que aquilo que nos é apresentado
em primeira instância. Uma excelente história que se relaciona com esse
gigantesco emaranhado de histórias, formando o Mundo de Gaiman.
A edição da
Editora Intrínseca está excelente: bem traduzido, bem revisado e com um belo
acabamento. A capa é muito linda, mostrando Lizzie em seu próprio oceano, e uma
contracapa estranha, bonita e chamativa. O livro não é muito grande e você o
consome vorazmente quando começa a leitura. Eu mesmo já o li três vezes e
pretendo ler pela quarta ainda esse ano. Só para comprovar como o livro é
cativante, uma verdadeira obra de arte.
Editora: Intrínseca
Ano de Lançamento: 2013
Páginas: 208
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