segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O Oceano no Fim do Caminho



de Neil Gaiman

Sinopse: Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete anos.Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle, que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas, inclusive os do menino.
Ele sabia que os adultos não conseguiriam — e não deveriam — compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro oceano.

Quem já leu algum livro/quadrinho de Neil Gaiman sabe que o autor não precisa de apresentações. Se não leu ainda, faça um favor a si próprio e leia Sandman ou Deuses Americanos. Ou, melhor ainda, leia O Oceano no Fim do Caminho, primeira obra de Gaiman após cinco anos sem lançar livros. É uma daquelas histórias que você vai querer ler e reler para o resto de sua vida, te fazendo relembrar sua infância, deixando-o apreensivo a cada página virada.
O Oceano no Fim do Caminho é um conto sobre como as experiências passadas em nossa infância influenciam quem somos no futuro. Não por acaso o autor alega ter escrito o livro com base em suas próprias lembranças – quando lia Batman, comia torradas ruins e imaginava que suas vizinhas eram bruxas. Acho que o maior mérito do livro é se relacionar com absolutamente todas as pessoas, afinal todos já foram crianças. Você pode não ter passado pelas mesmas experiências que Gaiman (provavelmente não mesmo), porém, ao ler a história, percebe que via a realidade com a mesma ingenuidade que o narrador da história.
O livro nos apresenta a um narrador cuja identidade nunca é revelada (eu o chamo de Little Neil). Este narrador retorna para a Inglaterra para participar de um funeral (de quem? Teorias?) e decide ir até a antiga Fazenda Hempstock, onde começa a se lembrar do passado, de quando tinha oito anos e um homem se suicidou no carro de sua família, liberando uma força poderosa na cidade, e de como ele conheceu Lizzie Hempstock e a malvada Ursula Monkton.
A vantagem de um livro escrito em primeira pessoa é poder mergulhar na mente da personagem principal de uma forma totalmente diferente: o próprio protagonista da história lhe conta como se sente e pensa, de uma maneira muito pessoal. E quando esse protagonista é uma criança, fica praticamente impossível não se comover ou relacionar com ele – em dado momento, por exemplo, o pequeno narrador presencia uma situação incomum para sua idade, e não entende o que acontece. É curioso ver com olhos de adulto como uma criança vê coisas como violência, abuso e sexo. E é dessa forma que Gaiman nos apresenta a história, sua história, poderosa e tocante na medida certa.
Vale ressaltar que as Hempstock foram citadas primeiramente em O Livro do Cemitério (que será resenhado em outro momento) e que Ursula Monkton é aparentemente um tipo de criatura estranhamente parecida com a Outra Mãe de Coraline (idem), demonstrando a intenção de Gaiman de criar sua própria mitologia em seus livros – o que já vinha mostrando com Deuses Americanos e Os Filhos de Anansi. (não preciso nem comentar que vai ter resenha no futuro, né). É interessante poder relacionar os livros e ver que há muito mais ali do que aquilo que nos é apresentado em primeira instância. Uma excelente história que se relaciona com esse gigantesco emaranhado de histórias, formando o Mundo de Gaiman.
A edição da Editora Intrínseca está excelente: bem traduzido, bem revisado e com um belo acabamento. A capa é muito linda, mostrando Lizzie em seu próprio oceano, e uma contracapa estranha, bonita e chamativa. O livro não é muito grande e você o consome vorazmente quando começa a leitura. Eu mesmo já o li três vezes e pretendo ler pela quarta ainda esse ano. Só para comprovar como o livro é cativante, uma verdadeira obra de arte.



Editora: Intrínseca
Ano de Lançamento: 2013
Páginas: 208 

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