de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa
Sinopse:
Com prefácio de Marcel Souto Maior, autor
do livro “As vidas de Chico Xavier”, da editora LeYa Brasil, Kardec é uma
ficção histórica em quadrinhos. A obra transporta o leitor para a França do
século XIX, onde as ideias metafísicas borbulhavam, e acompanha Hippolyte Léon
Denizard Rivail durante sua busca por respostas sobre a existência humana. O
livro acompanha a investigação de Rival, então pedagogo e estudioso do
eletromagnetismo, dos fenômenos sobrenaturais, vividos nas reuniões de “mesas
girantes”, em que objetos inexplicavelmente se moviam até tornar-se Allan
Kardec, o codificador do espiritismo, psicógrafo e principal divulgador da
doutrina do espiritismo. Conheça onde tudo começou.
Nunca
escrevi uma biografia (sequer sou fã, para ser sincero), mas imagino o quão difícil
deve ser escrever uma. Uma biografia em quadrinhos, pela lógica, deve ser ainda
mais difícil: a escolha certa do traço, quais momentos retratar, a falta de
espaço para desenvolver a trama – convenhamos, histórias em quadrinhos ainda
são materiais difíceis de lançar no Brasil. E chegamos a Kardec, bela obra de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa que conta o
começo do Espiritismo.
O
livro abre com imagens de uma tribo sendo assolada por uma forte tempestade
enquanto uma mulher psicografa uma mensagem do plano espiritual. Assim mesmo,
sem muitas explicações iniciais – nada que seja um demérito, afinal os autores
vão apresentando as personagens e a doutrina Espírita aos poucos, para que você
se familiarize com a situação e aquelas ilustres personas. O próprio Kardec
só aparece posteriormente, ainda usando o nome de Hippolyte Léon Denizard
Rivail. Este é um recurso muito usado em livros e quadrinhos, e o achei bem
empregado aqui.
O
problema, em minha opinião, é que o livro se detém muito em algumas questões e
demora para apresentar as descobertas espirituais de Kardec. Quando isso
finalmente ocorre, a obra termina, parecendo incompleta. Espero mesmo que saia
um segundo volume (e um terceiro, quarto, quinto...), pois merecemos ver um pouco mais de Kardec sob a visão de
Ferreira e Rosa.
Creio,
contudo, que essa seja minha única reclamação em relação à obra. Entendo que os
autores precisavam mostrar a descrença de Kardec em paralelo ao advento da
comunicação dos espíritos, porém as passagens se estendem demais, enquanto os
estudos de Hippolyte parecem apressados, corridos, pois ainda havia muita
história a ser contada e poucas páginas sobrando. Se alguns dos eventos
tivessem sido apenas resumidos, creio que esse problema teria sumido. Isso não
diminui a obra como um todo, mas tirou um pontinho por não nos mostrar o Kardec que queríamos ver. O decodificador da doutrina Espírita não nos é
apresentado na trama, pois este ainda não surgiu no ponto de sua vida que testemunhamos aqui.
Ainda
somos apresentados à história de um velho druida em meio a uma guerra desumana,
cuja vitória vai para os romanos, e a derrota, para os celtas. Ainda que
rápida, essa história é deveras interessante, e fiquei com vontade de saber
mais sobre a personagem – confesso que fico aliviado pela decisão dos autores
de mostrar tão pouco aqui, pois a falta de mistério poderia estragar a curta
passagem do druida pela história.
Quanto
ao traço de Rodrigo Rosa, posso dizer que casa bem com a história. As
personagens são estranhamente caricatas e soturnas. Por vezes parecem sombrias,
passando a sensação de que estão ali para serem descobertas, assim como o próprio
Espiritismo e as mesas girantes, personagens importantes da obra. O desenhista
também se mostra extremamente capaz em algumas páginas particularmente difíceis
e incríveis no final do livro, quando tudo enfim é revelado. São nove páginas
exuberantes, que vão te deixar de queixo caído.
A
edição do selo Barba Negra, da Editora LeYa, é muito boa, ainda que não se
destaque tanto quanto outras histórias em quadrinhos lançadas por aí – apesar de
tudo, considero o formato mais sóbrio bom para essa HQ. Toda em preto e branco,
a edição possui miolo offset de alta qualidade e capa triplex com orelhas, e um
efeito prateado simplesmente lindo no título. Além disso, conta com páginas
pretas, prefácio de Marcel Souto Maior, glossário e extras. Uma boa edição para
espíritas, fãs de quadrinhos e para aqueles que gostariam de conhecer um pouco
mais sobre Allan Kardec.
Editora: Barba Negra (LeYa)
Ano de Lançamento: 2011
Páginas: 144
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