quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Kardec



de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa

            Sinopse: Com prefácio de Marcel Souto Maior, autor do livro “As vidas de Chico Xavier”, da editora LeYa Brasil, Kardec é uma ficção histórica em quadrinhos. A obra transporta o leitor para a França do século XIX, onde as ideias metafísicas borbulhavam, e acompanha Hippolyte Léon Denizard Rivail durante sua busca por respostas sobre a existência humana. O livro acompanha a investigação de Rival, então pedagogo e estudioso do eletromagnetismo, dos fenômenos sobrenaturais, vividos nas reuniões de “mesas girantes”, em que objetos inexplicavelmente se moviam até tornar-se Allan Kardec, o codificador do espiritismo, psicógrafo e principal divulgador da doutrina do espiritismo. Conheça onde tudo começou.

            Nunca escrevi uma biografia (sequer sou fã, para ser sincero), mas imagino o quão difícil deve ser escrever uma. Uma biografia em quadrinhos, pela lógica, deve ser ainda mais difícil: a escolha certa do traço, quais momentos retratar, a falta de espaço para desenvolver a trama – convenhamos, histórias em quadrinhos ainda são materiais difíceis de lançar no Brasil. E chegamos a Kardec, bela obra de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa que conta o começo do Espiritismo.
            O livro abre com imagens de uma tribo sendo assolada por uma forte tempestade enquanto uma mulher psicografa uma mensagem do plano espiritual. Assim mesmo, sem muitas explicações iniciais – nada que seja um demérito, afinal os autores vão apresentando as personagens e a doutrina Espírita aos poucos, para que você se familiarize com a situação e aquelas ilustres personas. O próprio Kardec só aparece posteriormente, ainda usando o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail. Este é um recurso muito usado em livros e quadrinhos, e o achei bem empregado aqui.
            O problema, em minha opinião, é que o livro se detém muito em algumas questões e demora para apresentar as descobertas espirituais de Kardec. Quando isso finalmente ocorre, a obra termina, parecendo incompleta. Espero mesmo que saia um segundo volume (e um terceiro, quarto, quinto...), pois merecemos ver um pouco mais de Kardec sob a visão de Ferreira e Rosa.
            Creio, contudo, que essa seja minha única reclamação em relação à obra. Entendo que os autores precisavam mostrar a descrença de Kardec em paralelo ao advento da comunicação dos espíritos, porém as passagens se estendem demais, enquanto os estudos de Hippolyte parecem apressados, corridos, pois ainda havia muita história a ser contada e poucas páginas sobrando. Se alguns dos eventos tivessem sido apenas resumidos, creio que esse problema teria sumido. Isso não diminui a obra como um todo, mas tirou um pontinho por não nos mostrar o Kardec que queríamos ver. O decodificador da doutrina Espírita não nos é apresentado na trama, pois este ainda não surgiu no ponto de sua vida que testemunhamos aqui.
            Ainda somos apresentados à história de um velho druida em meio a uma guerra desumana, cuja vitória vai para os romanos, e a derrota, para os celtas. Ainda que rápida, essa história é deveras interessante, e fiquei com vontade de saber mais sobre a personagem – confesso que fico aliviado pela decisão dos autores de mostrar tão pouco aqui, pois a falta de mistério poderia estragar a curta passagem do druida pela história.
            Quanto ao traço de Rodrigo Rosa, posso dizer que casa bem com a história. As personagens são estranhamente caricatas e soturnas. Por vezes parecem sombrias, passando a sensação de que estão ali para serem descobertas, assim como o próprio Espiritismo e as mesas girantes, personagens importantes da obra. O desenhista também se mostra extremamente capaz em algumas páginas particularmente difíceis e incríveis no final do livro, quando tudo enfim é revelado. São nove páginas exuberantes, que vão te deixar de queixo caído.
            A edição do selo Barba Negra, da Editora LeYa, é muito boa, ainda que não se destaque tanto quanto outras histórias em quadrinhos lançadas por aí – apesar de tudo, considero o formato mais sóbrio bom para essa HQ. Toda em preto e branco, a edição possui miolo offset de alta qualidade e capa triplex com orelhas, e um efeito prateado simplesmente lindo no título. Além disso, conta com páginas pretas, prefácio de Marcel Souto Maior, glossário e extras. Uma boa edição para espíritas, fãs de quadrinhos e para aqueles que gostariam de conhecer um pouco mais sobre Allan Kardec.




Editora: Barba Negra (LeYa)
Ano de Lançamento: 2011
Páginas: 144

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