quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Frankenstein, ou o Prometeu Moderno

de Mary Shelley

            Sinopse: O jovem e talentoso dr. Victor Frankenstein tinha um futuro brilhante pela frente. Contudo, sua obsessão pelo obscuro e pelo desconhecido seria sua ruína: ávido pelo poder de transformar a natureza, Victor descobre o segredo da centelha da vida. O resultado não poderia ser pior.

Ler Frankenstein quando já se conhece as personagens principais através de filmes, quadrinhos e seriados é um grande desafio. Quando pensamos na Criatura (constantemente chamada pelo sobrenome de seu criador, mas cujo nome jamais fora dito na obra), logo nos vem à memória a imagem do monstro eternizado por Boris Karloff: pele verde, movimentos lentos e duros, braços esticados, olhar morto. Até mesmo a capa da minha versão do livro mostra essa concepção do monstro.

Então, ler a obra mais famosa de Mary Shelley nestas condições é um exercício de desapego de seus próprios conhecimentos. A Criatura não poderia ser mais diferente, e o livro em si destoa totalmente de qualquer uma de suas adaptações facilmente. Esqueça um monstro lento e descerebrado, esqueça um Victor Frankenstein idoso morando em um castelo, esqueça um inexistente Igor, esqueça a eletricidade, esqueça tudo que sabe sobre Frankenstein.
Frankenstein, ou O Prometeu Moderno é mais do que uma obra sobre ciência profana. É preciso deixar isso bem claro. Considerada a primeira ficção científica, o livro vai muito além, aprofundando-se mais em temas como preconceito e culpa do que na ciência em si. O fato de nunca sabermos como é o processo que traz de volta à vida os mortos (um procedimento divino, daí Victor ser chamado de Prometeu Moderno) já comprova que o foco da obra é outro.
Enraizando-se principalmente no sofrimento, vemos Victor de um lado, sofrendo por conta de sua criação maligna, definhando em meio ao tormento; e do outro sua cria, sofrendo por ser eternamente rejeitada por uma humanidade na qual anseia estar. Esse extremo chega a tal que o monstro, genuinamente bom, corrompe-se, enquanto Victor caminha em direção ao seu destino sem saber exatamente como proceder em meio a águas tão turbulentas quanto desconhecidas.
O preconceito também é um dos temas mais abordados do livro, ainda que essa palavra não seja mencionada em momento algum. O monstro possui uma aparência medonha (sua pele é amarelada, e seus olhos, opacos), e ao vê-lo as pessoas decidem imediatamente destruí-lo. Se por instinto natural do ser humano ou por ódio impensado, nunca chegamos a saber. A verdade, porém, é que a aparência horrenda da Criatura a conduz ao sofrimento citado anteriormente, e é o principal condutor de suas ações ao reencontrar Victor. Sem entrar em muitos detalhes, o monstro tem uma solução para seu problema, porém Victor não tem certeza se está disposto a ajudá-lo.
O livro é todo narrado em primeira pessoa, primeiro através de cartas do capitão de um navio para sua irmã, posteriormente pelo próprio Victor. Em determinado momento também observamos a história pelo ponto de vista do monstro, que conta sua trajetória desde seu nascimento até se reencontrar com seu criador. Se o começo é um pouco difícil de ler, principalmente pelo fato de não vermos as personagens principais logo, o restante do livro se desenrola magnificamente.
Há poucas personagens regulares na trama, porém todas cumprem bem seus papéis e conduzem Victor e a Criatura para seu confronto. Não se deixe enganar por Frankenstein: absolutamente tudo o que acontece tem uma importância, seja para o enredo, seja para a narrativa escolhida por Shelley.
Acho importante salientar aos futuros leitores de Frankenstein que mantenham a mente aberta: a obra é mais do que se espera, e o bem e mal constantemente trocam de lugar ou se misturam, despindo os personagens de qualquer maniqueísmo. Ao ler o livro, resta a pergunta: quem é o verdadeiro vilão da história? Heróis, de certo, não existem, mas a resposta por surpreendê-lo. ­­ 


Editora:  Martin Claret
Ano de lançamento: 2012
Páginas: 212

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