sábado, 10 de setembro de 2016

O Chamado Selvagem


de Jack London

Sinopse: Buck, um robusto cão são-bernardo, vivia feliz em um sítio onde não era necessário defender seu território. Porém, sua vida muda totalmente quando um dos empregados do lugar o sequestra e vende para mineradores no Alasca. Como Buck é forte e peludo, se torna um cão de trenó, submetido a condições extremas, acossado pela violência dos homens, do ambiente e de outros cães.

            Se possuo um arrependimento em relação a este livro, foi de não tê-lo lido antes. Comprei a edição da Editora Hedra (muito recomendada) em uma promoção, mas só fui ler o livro quase um ano depois. Esta é provavelmente a obra mais famosa de Jack London, e nela o escritor nos apresenta Buck, uma mistura de pastor alemão com são-bernardo que vê sua vida desmoronar diante de seus olhos caninos.
            Como um livro realista e naturalista, nem Buck nem os demais cães falam. Eles sequer dialogam entre si, e seus pensamentos nos são apresentados na própria narração. Suas falas, por assim dizer, estão na forma como agem, se movem e lutam para sobreviver – seja combatendo humanos, seja combatendo outros cães. Isso pode ser um baque para leitores que não estejam acostumados com livros neste estilo, porém, passada a estranheza, a obra se torna um verdadeiro deleite. Você simplesmente não sente falta de diálogos, ainda que eles existam – temos personagens humanas na história, afinal.
             A obra é narrada em terceira pessoa e apresenta uma boa variedade de cães, enquanto os humanos passem pela trama para que Buck seja levado de um lugar para outro e para outro até finalmente se ver perdido (ou seria livre?) em meio à natureza selvagem. O livro se debruça sobre a narração, valendo-se das paisagens congeladas e do sofrimento canino, contando com poucas conversas, encaixadas providencialmente nos locais corretos.
            Com certeza a maior qualidade de O Chamado Selvagem, bem como de Caninos Brancos, outro livro de Jack London que será resenhado por aqui em breve, é a apresentação dos animais. Enquanto os humanos estão sempre em segundo plano, apenas ajudando a mover a trama, vemos a vida do ponto de vista brutal dos animais em um ambiente inóspito. Buck chega ao Alasca e se une a uma matilha de cães puxadores de trenó e seu martírio começa. Ele precisa aprender a se acostumar com seu novo estilo de vida, e é justamente aí que a narrativa poderosa de London entra e se destaca.
            Parece que London se transformou em um cão (ou num lobo) e viveu como animal por meses até compreender de tal forma a mente canina que o livro saiu nada menos do que perfeito – pelo menos neste aspecto específico. Analisando os cães, podemos ver suas disputas por poder, a busca por alimento, os desafios de enfrentar a própria natureza. Está tudo lá, e você pode observar qualquer cão por alguns dias para ver como ele agirá de formas muito semelhantes.
            Também vale destacar o fim da civilidade e o abraço à selvageria. Buck, apesar de ser um cão, não possuía instintos ferozes quando a trama começa. Vivendo em uma fazenda, era mimado e tratado como uma criança grande e peluda. Mas quando chega ao Alasca, tudo muda: vivendo sob a lei do porrete, tendo que encarar a violência dos demais cães e buscando comida constantemente para não morrer de fome, Buck encontra uma selvageria ancestral dentro de si, o tal chamado selvagem do título, uma chama herdada de seus antepassados lupinos.
            E Buck vira um lobo.
            A história, afinal, é sobre o fim do cão e a ascensão do lobo. A ferocidade faz parte naturalmente de todas as criaturas vivas, e Jack London escolhe um cão para mostrar como ela surge ao testarmos os limites de um ser vivo. Como o próprio Alasca onde o livro se passa, é uma história dura e, por vezes, de partir o coração. Dificilmente seu coração será inquebrável como o de Buck, posso apostar.




Editora: Hedra
Ano de lançamento: 2012
Páginas: 12

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