de Jack London
Sinopse: Buck, um robusto
cão são-bernardo, vivia feliz em um sítio onde não era necessário defender seu
território. Porém, sua vida muda totalmente quando um dos empregados do lugar o
sequestra e vende para mineradores no Alasca. Como Buck é forte e peludo, se
torna um cão de trenó, submetido a condições extremas, acossado pela violência
dos homens, do ambiente e de outros cães.
Se possuo um arrependimento em relação a este livro, foi de não tê-lo
lido antes. Comprei a edição da Editora Hedra (muito recomendada) em uma promoção, mas
só fui ler o livro quase um ano depois. Esta é provavelmente a obra mais famosa
de Jack London, e nela o escritor nos apresenta Buck, uma mistura de pastor
alemão com são-bernardo que vê sua vida desmoronar diante de seus olhos
caninos.
Como
um livro realista e naturalista, nem Buck nem os demais cães falam. Eles sequer
dialogam entre si, e seus pensamentos nos são apresentados na própria narração.
Suas falas, por assim dizer, estão na forma como agem, se movem e lutam para
sobreviver – seja combatendo humanos, seja combatendo outros cães. Isso pode
ser um baque para leitores que não estejam acostumados com livros neste estilo,
porém, passada a estranheza, a obra se torna um verdadeiro deleite. Você
simplesmente não sente falta de diálogos, ainda que eles existam – temos personagens
humanas na história, afinal.
A
obra é narrada em terceira pessoa e apresenta uma boa variedade de cães, enquanto
os humanos passem pela trama para que Buck seja levado de um lugar para outro e
para outro até finalmente se ver perdido (ou seria livre?) em meio à natureza
selvagem. O livro se debruça sobre a narração, valendo-se das paisagens
congeladas e do sofrimento canino, contando com poucas conversas, encaixadas
providencialmente nos locais corretos.
Com
certeza a maior qualidade de O Chamado
Selvagem, bem como de Caninos Brancos,
outro livro de Jack London que será resenhado por aqui em breve, é a
apresentação dos animais. Enquanto os humanos estão sempre em segundo plano,
apenas ajudando a mover a trama, vemos a vida do ponto de vista brutal dos
animais em um ambiente inóspito. Buck chega ao Alasca e se une a uma matilha de
cães puxadores de trenó e seu martírio começa. Ele precisa aprender a se
acostumar com seu novo estilo de vida, e é justamente aí que a narrativa
poderosa de London entra e se destaca.
Parece
que London se transformou em um cão (ou num lobo) e viveu como animal por meses
até compreender de tal forma a mente canina que o livro saiu nada menos do que
perfeito – pelo menos neste aspecto específico. Analisando os cães, podemos ver
suas disputas por poder, a busca por alimento, os desafios de enfrentar a
própria natureza. Está tudo lá, e você pode observar qualquer cão por alguns
dias para ver como ele agirá de formas muito semelhantes.
Também
vale destacar o fim da civilidade e o abraço à selvageria. Buck, apesar de ser
um cão, não possuía instintos ferozes quando a trama começa. Vivendo em uma
fazenda, era mimado e tratado como uma criança grande e peluda. Mas quando chega
ao Alasca, tudo muda: vivendo sob a lei do porrete, tendo que encarar a
violência dos demais cães e buscando comida constantemente para não morrer de
fome, Buck encontra uma selvageria ancestral dentro de si, o tal chamado
selvagem do título, uma chama herdada de seus antepassados lupinos.
E
Buck vira um lobo.
A
história, afinal, é sobre o fim do cão e a ascensão do lobo. A ferocidade faz parte
naturalmente de todas as criaturas vivas, e Jack London escolhe um cão para
mostrar como ela surge ao testarmos os limites de um ser vivo. Como o próprio
Alasca onde o livro se passa, é uma história dura e, por vezes, de partir o
coração. Dificilmente seu coração será inquebrável como o de Buck, posso
apostar.
Editora: Hedra
Ano de lançamento: 2012
Páginas: 12
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